sábado, 15 de novembro de 2008

Monetaristas X Keynesianos



Dois motivos me incentivaram a escrever o presente artigo: primeiro, o aniversário da morte de um dos expoentes da teoria Económica, Milton Friedman (1922-2006) e o segundo, a actual, e altamente comentada crise económica mundial, que de alguma forma nos leva a um olhar atento a duas escolas de pensamento, que há mais de 50 anos desfrutam o predomínio da ciência económica: de um lado a Escola Keynesiana e do outro a Monetarista, estes últimos, conhecidos também como liberais, dos quais Friedman foi ferrenho defensor, considerado mesmo o Pai do Liberalismo.
Ao longo das décadas as duas escolas têm dividido a opinião tanto de economistas quanto do pensamento económico; adeptos de Keynes afirmam e defendem as virtudes do Estado-providência, ou seja: as leis de mercado sozinhas são incapazes de levar a economia ao equilíbrio, é preciso uma maior participação do Estado na economia. Por outro lado, os adeptos de Friedman (Escola de Chicago) têm vindo a fazer valer a sua visão liberal sob as várias perspectivas económicas.
Friedman, que se não tivesse morrido há dois anos, estaria hoje com 96 anos e vivenciaria esta, que já começa a ser classificada como a maior crise já vivida pelo capitalismo. De lembrar, ele – um opositor ferrenho do Keynesianismo - desafiou todas as teorias dominantes a respeito das causas da Grande Depressão, afirmando que foi o excesso e não a falta de intervenção governamental a responsável pela crise de 1929.
Após a crise da Bolsa de Nova Yorque (1929) as propostas dos liberais foram rejeitadas em todos os países do mundo. No bloco socialista seguia-se com sucesso o Planeamento Económico Estatal, enquanto no bloco capitalista os liberais eram substituídos pelos keynesianos. Porem, o revisionismo na ex. URSS, e a crise do bloco capitalista provocada maciçamente pela crise do petróleo - 1974, traz novamente ao cenário as ideias monetaristas (neoliberais). O auge da influência monetarista acontece na década de 1990, com o Consenso de Washington, quando os governantes de vários países se comprometeram com as propostas neoliberais segundo as quais a regulação era desnecessária, desnecessários também são os mecanismos de controlo e transparência do sistema financeiro internacional; indo mais além, o Consenso de Washington defendeu o princípio de que os Banco Centrais não precisavam manter uma política de fiscalização e acompanhamento sistémico da economia, afirmando que esta auto regula-se pelos derivativos.
Em uma entrevista concedida em 2003 e conduzida pelo economista Francês Henri Lepage, Friedman declarou que as condições para a prosperidade estavam garantidas: o desemprego estava baixo, o monstro da inflação domado, não havia crise financeira e não havia deflação, a produtividade estava a crescer e os bancos estavam em boa forma, e - apesar de discordar com as ferramentas discricionárias usadas pelo Federal Reserv (Banco Central Americano) - Friedman louvou a política monetária de Alan Greenspan, e acreditava que as políticas de injecção monetária eram capazes de trazer enorme prosperidade.
Uma análise do cenário actual coloca em descrédito o Consenso de Washington, e de modo geral a sustentabilidade das ideias monetáristas. Assistimos ao oposto: as regras de prudência bancária, ausência de politicas publicas para assegurar o controle, a falta de limites de alavancagem estão na base do crash ora vivido. E é exactamente o Estado que aparece no cenário para minimizar a crise. Em tese, estamos diante de um retorno ao pensamento de Keynes, que aclama o papel do Estado como regulador da actividade económica.
Importa salientar que, apesar das evidências do momento tenderem para o paradigma Keynesiano, não se pretende neste artigo, tirar o mérito da escola de Friedman. No campo das ciências sociais, as teorias são criadas para entender e resolver problemas específicos, com o passar do tempo demandam mudanças passíveis a dar resposta a novos problemas que surgem, como diz Hicks (citado por Meller p.81) "não pode haver uma teoria económica que explique tudo e a todo tempo”. Assim, o pensamento económico está mais uma vez diante do cenário favorável ao debate acirrado entre Keynesianos e Monetaristas, e é bem provável que após esta crise, tenhamos um avanço considerável na teoria económica, uma vez que, apesar de todos efeitos nocivos que possam trazer, as crises desempenham um papel fundamental na formulação de teorias económicas, foi após um cenário de crise que surgiu o tão estudado multiplicador Keynesiano.

Referências Bibliográficas e Webliográficas
1.GREENSPAN, Alan. A era da turbulência: aventuras em um novo mundo. Campus; Elsevier, 2008.
2.GALBRAITH, John K. The great crash 1929. New York, NY: Penguin Books, 1980
3.KINDLEBERGER, Charles P. Manias, pânico e crashes: um histórico das crises financeiras. Trad. da 3ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
4.CHUNG, Joanna. Bigger Role urged for regulator with safe hands Financial times, 22.10.08 p.9
5.MANKIW Gregory Tax-Policy-During-Great-Depression disponível em :
4.http://gregmankiw.blogspot.com/2008/11/tax-policy-during-great-depression.html acesso em 14.12.08
5.LAPAGE Henri Milton Friedman : le triomphe du libéralisme disponivel em : http://www.fahayek.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1239&Itemid=53 Acesso em 14.12.08